O termo sucessor espiritual vem sendo cada vez mais jogado e atribuído a jogos na última década. Desenvolvedores independentes tem a chance de cativar um público de um gênero ou jogo que atualmente não é mais popular. É o caso com The Way, disponível no Steam para PC, Linux e OSX por 27,99 reais.
Inspirado em jogos como Another World, Flashback e Heart of Darkness, ele é mistura puzzle e plataforma. Mas será que ele conseguiu se tornar o tão desejado sucessor espiritual?
The Way conta a história, mesmo que esparsa, de Major Tom, numa alusão ao personagem fictício do álbum Space Oddity de David Bowie. Tom fazia parte de uma equipe de cientistas espaciais. Entretanto, sua esposa contrai uma doença terminal, e após sua morte, a qual ele não consegue lidar, parte em busca da vida eterna em um planeta distante.
Contada de uma maneira minimalista, a história é um dos melhores aspectos do game. O casamento entre visuais simples, mas ao mesmo tempo grandiosos, e trilha sonora melancólica são como uma lembrança constante dos anseios do protagonista. Momentos felizes ou até engraçados aparecem, mas sempre envoltos com um suave pano que reforça a presença de Major Tom naquele local.
Na maioria dos jogos AAA a superexposição de sensações e emoções são o que esclarecem ao jogador o que se passa dentro do personagem principal. Em The Way, a expressão “menos” é mais nunca foi tão verdadeira. Uma conversa propriamente dita só acontece próximo do fim do jogo, e somente imagens ou pensamentos de Tom, fragmentos de memorias do casal encontrados durante o jogo ilustram a tocante história. Uma lembrança que nem sempre tudo tem de ser explicado ao jogador.
A jogabilidade se expressa na grande maioria com controles simples. Para evitar a repetitividade, adiciona diversas ferramentas, ganhadas ao longo do progresso do jogo, que dão novas possibilidades aos puzzles do jogo. Estes, que podem até ser considerados difíceis, mas nunca injustos.
Inicialmente sou apresentado a puzzles onde memorização é essencial. Os mais comuns, como se esconder de inimigos, são usados para a introdução do jogador aos controles. Conforme progride, o personagem adquire um orbe que ganha formas diferentes, como um escudo refletor ou a habilidade de teletransporte. Os puzzles começam a ganhar uma forma única, mais interessantes, mais variados e divertidos de se resolver.
Mas, nada é bom para sempre e em uma das últimas áreas ele se torna uma montanha russa no que se refere a qualidade. Puzzles ótimos são intercalados com outros que conflitam com o sistema de movimento. Parece uma tentativa de inovar ainda mais na reta final, mas de uma forma que se esqueceram de que os controles não foram feitos para serem exatamente precisos.
Outro pequeno problema é o sistema de checkpoint, que segue a escola “Hotline Miami” de impiedoso. Algumas vezes me sentia confuso em relação ao que já havia completado ou não de certo puzzle e não existia um indicador para isso.
Em outros momentos um puzzle quase me levou a exaustão da maneira que foi apresentado. Algo que seria tão simples, como o controle de dois computadores, torna-se um vai e vem desnecessário o qual ainda questiono a necessidade. Prejudica no geral? De forma alguma, mas é importante apontar para aqueles mais impacientes.
Os problemas delimitados nos últimos parágrafos felizmente não arrastam The Way para baixo. Desenvolvido por um pequeno time de três pessoas, não apenas é um ótimo sucessor espiritual para os games que os inspiraram como mostra que a superexposição não é sempre necessária. Tome o tempo que precisar, absorva o ambiente a sua volta, aproveite a viagem de Major Tom e ela será sensacional.
The Way
Total - 8.5
8.5
The Way bebe da mesma água dos games que o inspiraram, consegue entregar uma história maravilhosa, estética bem trabalhada e jogabilidade divertida. Os puzzles podem ser inconsistentes, mas no final das contas a viagem de Major Tom é excepcionalmente brilhante.