O início de The Dwarves, game desenvolvido pela King Art Games, não poderia ser mais clichê. Um mal ameaça a terra de Girdlegard e o jogador, como sempre, é a única salvação para isto. Não deixe que os clichês desanimem, pois ironicamente é na história que está o seu ponto mais forte. Ele está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One a partir de US$ 29,99.
A trama gira em torno do anão Tungdil, que é encarregado por seu mestre de levar um anel para uma cidade local, e devido ao acaso, acaba por presenciar uma reunião entre exércitos Orcs e uma raça misteriosa conhecida apenas como os Alp. Seus objetivos? Trazer o mal do local conhecido como a Perished Land para Girdlegard.
Confesso não possuir nenhum conhecimento prévio da série de livros alemães que o inspirou, ainda assim, a história é agradável de se acompanhar dado a boa narrativa, o ritmo que os eventos se desenrolam e o incrível elenco que acompanha Tungdil. Raros são os momentos que eu encontro um grupo de personagens tão carismáticos.
Com personagens tão intrigantes, esperava no mínimo um foco na exploração, muito pelo contrário. Exploração é basicamente inexistente, o jogador vai de local de interesse a local de interesse por meio de um mapa-múndi. O que não funcionaria mal se ao menos eles fossem maior do que o tamanho de uma sala. Soa como uma bizarra maneira da King Art estender a duração do game a troco de nada.
O primeiro evento como este acontece cerca de trinta minutos após iniciar o jogo, onde Tungdil encontra dois personagens mortos sob bizarras circunstâncias. Depois de investigar cuidadosamente o local, — clicar em dois arbustos e nos corpos —, fiquei com uma dúvida na cabeça: “Era só isso que eu precisava fazer? ”. Qual era o propósito exatamente? Fazer alguma conexão com o ambiente? Se é o caso, ele falhou de maneira catastrófica. A exploração fica longe de ser o pior aspecto do jogo, este troféu fica para o combate.
The Dwarves se vende como um RPG em tempo real com pausa, ao mesmo estilo de Baldur’s Gate, Dragon Age: Origins, com um suposto diferencial: Cada ataque leva em conta a massa e a potência do mesmo. Ao usar um golpe devastador, um jogador poderia, por exemplo, fazer com que um orc fosse jogado de uma ponte. E isto realmente ocorre…em raras ocasiões.
Não falha pela falta de sinergia de personagens, que — apesar da carência de um leque de habilidades maior —, funcionam no campo de batalha, mas pela forma como o combate em si se desenrola. The Dwarves aposta em sempre colocar o jogador contra um grupo irreal de inimigos para passar uma sensação de desafio, que é quebrada no primeiro golpe desferido.
Para um jogo que prezou tanto pela ideia de levar em conta a potência de um ataque, ele certamente faz um péssimo trabalho em passa-la para o jogador. Golpes não conectam, falta uma sensação de “impacto”. Os anões que funcionam como “DPS” parecem que balançam os machados no ar como se tentam matar algum mosquito que o incomoda.
Pela “necessidade” de colocar esta barreira de desafio junto com golpes que não conectam, ou o jogador tem de interromper o combate constantemente ou ele se torna completamente caótico. E mesmo que ele o pare para avaliar a situação, raramente se vê em um ponto onde o que está na tela é compreensível. “Que orc eu ataco neste momento? ” Foi uma pergunta que fiz tantas vezes que dá para preencher uma folha A4 frente e verso.
O que diminui qualquer perspectiva de melhora em The Dwarves é a noção de que, após todo o trabalho que se tem para entender o combate, ele é raso. Da metade da jornada para frente pode-se aplicar o mesmo combo de “atordoe e ataque” à praticamente todos os inimigos e funciona.
Porém, o maior inimigo de quem jogar no PC vai ser na verdade os péssimos controles. Claramente desenvolvido com os consoles em mente, a King Art Games optou — por algum motivo — trocar a movimentação baseada no analógico para cliques do mouse na tela sem alterar o ritmo ou aceleração do personagem. Temos então um monstruoso tempo de resposta entre clicar em um local e uma ação acontecer. Isto vai do simples ato de andar até um local, para — isto mesmo que você pensou — o combate.
Quando coloquei o controle de Xbox One, The Dwarves se tornou consideravelmente mais tolerável, os prompts de comando funcionavam corretamente, a movimentação e a escolha de habilidades durante o combate era rápida. Seja descuido, ou priorização de outras funcionalidades durante o desenvolvimento, a falta de um suporte aceitável ao mouse e o teclado faz com que as versões para console, por mais bizarro que soe, a melhor opção no momento.
Ele trata-se menos de um jogo ruim e mais de um jogo decepcionante. Embora com uma história clichê e estereotipada, ela é capaz de se sustentar sozinha. A jogabilidade fica solta em meio a um conjunto de outras variáveis presos por fios finíssimos, The Dwarves passa uma sensação de que qualquer hora pode desmoronar. Falta uma base de jogabilidade que apoie a história, que seja capaz de estender as emoções que tentam ser passadas pelas cinemáticas.
A King Art Games poderia ter optado por um sistema de combate por turnos e aplicado a ideia de poder mover uma unidade para um hexágono ao usar uma habilidade especial. Até mesmo uma visual novel teria caído bem à esta altura. Atualizações podem tornar o controle do mouse / teclado toleráveis, no entanto, não removem uma jogabilidade que, para um RPG de 10 a 20 horas, não poderia se encaixar de maneira pior. Bem, ao menos existem os livros para gastar o tempo.
The Dwarves
Total - 5
5
História cativante que é arrastada para baixo por uma das mais fracas e confusas implementações de um sistema de combate e jogabilidade de 2016. The Dwarves tem boas ideias, mas por ora, é melhor aproveitar a trama por meio dos livros.