Há aqueles jogos onde todos os sistemas estão dispostos para ajudar o jogador. Onde cada ação feita irá ter uma consequência favorável para ele ou no máximo um problema que pode ser resolvido rapidamente. Já outros te dão um soco no estômago e esperam que você lide com a dor da melhor maneira possível. The Age of Decadence está com o maior orgulho na segunda opção. O RPG está a venda no Steam e GOG a partir de R$ 55,99.
Age of Decadence é um “RPG” em um dos sentidos mais puros da coisa. Você escolhe o personagem e deve realizar o seu papel em uma sociedade a beira das ruínas em um universo pós-apocalíptico que lembra bastante o período romano. Cada jogada oferece diferentes problemas e soluções a serem descobertas. A história de um mercador ou um “loremaster” é completamente diferente a de um assassino ou de um Praetor, um dos soldados designados a proteger uma das três casas nobres que sobreviveram a guerra.
É um jogo onde há uma tremenda ênfase em escolha e consequência. Aprenda a conduzir um diálogo, persuadir ou mentir para seus inimigos e você pode evitar o derramamento de sangue desnecessário. Boa parte da minha campanha como um mercador foi focada em persuadir inimigos, desvendar intrigas e conhecer mais sobre o mundo o qual habitava.
Tais escolhas e consequências ficam claras na hora de criar o personagem. Enquanto temos os típicos pontos de força, destreza, inteligência, Age of Decadence apresenta habilidades como Loremaster, persuasão, se passar por outra pessoa, streetwise (algo como conhecimento prático), pechinchar, dentre outras. A princípio tais habilidades me pareceram fúteis, mal sabia o quão estava errado. A descoberta se deu algumas horas após começar o jogo, onde me vi rodeado por soldados imperiais sedentos pelo meu sangue. Tudo isso por falhar em persuadir um líder a se juntar a minha causa.
Sua história é densa e relativamente complexa quando comparado com os RPGs atuais. Prepare-se para passar dez, quinze, vinte minutos olhando para uma tela com textos e mais textos. Não vejo isso como um ponto negativo, a cada minuto que entendia um pouco mais do que acontecia a minha volta, mais eu queria explorar. Normalmente não coloco isso em minhas análises, mas um bom conhecimento de inglês é essencial para apreciar o universo que a Iron Tower criou. Sempre que possível, Age of Decadence não deixa nada entrar na frente da história. Em alguns momentos é possível até mesmo voltar rapidamente para uma outra cidade após completar uma quest, onde outros RPGs te forcariam a caminhar tudo de volta.
A Iron Tower tenta fugir dos estereótipos do gênero. Nada de dragões ou quests como “mate cinco goblins e volte para sua recompensa”. A melhor recompensa que o jogo te dá é a chance de viver mais um dia. Não acredite em tudo que vê, o universo de Age of Decadence é um dos mais traiçoeiros e asquerosos que já desvendei em RPGs. Em cada esquina há uma nova história a ser descoberta, um mercador pronto para mentir na sua cara em troca de algumas moedas de ouro ou um assassino pronto para te matar no primeiro descuido, o que torna também um pouco mais acreditável.
Quando o combate é inevitável, Age of Decadence mais uma vez lembra ao jogador que ele só está naquela posição muito provavelmente por causa de uma decisão errada. As batalhas são realizadas em um sistema de turnos com tantas variáveis que sequer ouso lista-las aqui. Um golpe certeiro na mão fará com que o inimigo derrube a sua arma, enquanto um ataque na cabeça irá reduzir a sua percepção ou o deixará atordoado por alguns turnos.
O exemplo citado é relativamente raro, afinal, a classe escolhida irá definir a sua habilidade no combate. O que um mercador tem de experiência com combate? Se a sua resposta foi “nenhuma”, já sabe o que esperar do combate de Age of Decadence. Morrer com uma espada no pescoço, um martelo na cabeça ou um golpe que não deu certo é tão fácil quanto respirar. Nem mesmo classes tecnicamente mais habilidosas, como os assassinos, escapam do terrível destino da morte.
Não existe uma ênfase em tornar o combate agradável para o jogador, apesar de que os sistemas usados são bem elaborados, o jogo tenta torna-lo desfavorável. Boa parte do tempo que lutei contra inimigos, estava em menor número, com chances de sobreviver a cada momento sendo reduzidas a uma distante esperança. É preciso saber como e quando atacar e nem assim é garantia de que sairá vitorioso. Lá pela minha 50ª morte, já não estava tão interessado em olhar para uma tela de combate de novo, mas estava tão investido em conhecer mais sobre a história que ignorei tais empecilhos.
Age of Decadence teve seu desenvolvimento iniciado em 2004, consequentemente, ele está muito longe de ser um primor gráfico. As texturas são agradáveis, enquanto os modelos de personagens e animações são medianos para fracos. Aqueles com um computador menos potente não terão problemas em rodá-lo.
A Iron Tower contorna o problema dos gráficos ao oferecer ótimas descrições de locais e personagens. Da forma que a tapeçaria está disposta na primeira sala que você entra em Teron, a cidade inicial, as movimentadas ruas de Maadoran, a maior cidade do mundo conhecido e as tendas erguidas por tribos invasoras em longínquas planícies.
Após completar duas histórias (Praetor e Mercador), sinto ainda que tenho muito a aprender sobre o violento universo de Age of Decadence e seus habitantes. É um RPG que consegue entregar uma interessante história sem ter que constantemente agradar ao jogador. Você não é a peça central de uma trama, apenas uma das ferramentas que movimenta a máquina. Depois de jogar tantos títulos que quase imploram para que o jogador salve o universo, as vezes é bom nos lembrar que somos meros mortais em um mundo que irá seguir em frente, com ou sem a nossa influência.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Iron Tower Studio