Em 9 de maio de 2017 Stellaris completará um ano; a grande aposta de 4X com Grand Strategy da Paradox não atingiu as expectativas como um jogo de estratégia. Agora Stellaris: Utopia inicia a segunda e possivelmente a mais importante jornada de fazer com que os elementos que compõem o game comecem a ser unir. É hora de fazer uma arrumação na casa.
O principal problema de Stellaris era a falta de um componente que criasse maior dinamismo do mid para o late game. Caso tivesse um início de partida confortável, o jogador então poderia praticamente ficar tranquilo e se preocupar somente com quests. E o conteúdo de quests, é finito e não tão atraente depois de dez partidas. A expansão Utopia dá um jeito nisso de várias maneiras sendo as duas mais importantes são a remodelagem do sistema de facções — incluso na atualização 1.5 (Banks) gratuitamente — e o a dupla Tradition Tree com Ascension Perks.
Vai embora o status quo de ser a supremacia galáctica, Stellaris segue um viés mais Crusader Kings 2 onde agora é hora de aprender quando irritar ou não alguém. As facções surgem com o tempo ou ações diplomáticas / militares. Algumas querem uma posição mais pacifista do governo, outras, maior igualdade entre as raças. Claro que se seu estado for escravocratra, você pode ter certeza que cedo ou tarde uma crise vai estourar.
O mesmo acontece para planetas colonizados, que mudam sua visão política de acordo com a colonização, as raças e quais editais estão ativos nela ou no setor a qual pertence. Não chega a ser um sistema realmente profundo como os de Europa Universalis e carece um pouco mais de personalidade, mas já é um grande avanço em relação ao “todos os planetas são iguais” antes presente.
O que me impede de me rasgar em elogios para o sistema é que ele se apresenta como uma via de uma mão só. As facções influenciam as ações do governo mas não ofertam variedade. Um sistema que funciona muito bem para Endless Space 2, e esperava que tivesse sido implementado pela Paradox, é a liberação de leis de acordo com a direção que o jogador segue. No game da Amplitude Studios a redução do uso de armamentos e o foco em fazendas faz com que uma classe política ambientalista surja e permita a implementação de leis do meio ambiente. A responsabilidade fica por conta da Tradition Tree.
Chamá-la de genérica é forçar a barra, é uma jogada calculista e segura por parte da Paradox. Pegar uma mecânica já estabelecida por Civilization V e aplica-la ao game, ou seja, funciona. As opções funcionam como um grande pincel para passar sobre as nações. Guie uma nação pela estrada militar e você deve escolher a árvore de dominação para aumentar o poderio militar. Aumentar a quantidade de população em planetas recém-colonizados é feita na Tradition Tree e por aí vai. Certas opções de fato se destacam, mas de resto é tudo muito constrito. Não me impressiona se uma segunda reorganização dessa árvore aconteça no futuro.
As Ascension Perks, pontos de vantagem desbloqueáveis assim que se completa uma árvore é que traz a tão desejada variedade e um dos pontos positivos de Utopia. No entanto, é uma mecânica um pouco “late game” demais de acordo com a maneira que você estabelecer o império. É preciso se focar imensamente em pontos de Unity, usado para avançar na Tradition Tree, para que as Ascension Perks comecem a fazer a nação divergir para o caminho que se deseja.
Isso só não me abala tanto por conta da, até este momento, carência de um sistema de política externa. Você pode ter duas, três raças se estapeando pela galáxia, mas existe uma insuficiência de instrumentos para que o jogador tenha mais controle sobre como uma espécie o vê. O que ainda ocorre bastante é “Você não é guiado da mesma forma que eu então provavelmente eu te odeio”, o que vira uma eterna constante de ódio e há pouco o que se fazer. O sistema de rivais, copiado de Europa Universalis IV, tem um limite de influência e o conceito de jogar todo o peso de maior instabilidade sobre os Fallen, crises de end game ou os Awoken Empires para quem tem o pacote Leviathans faz com que você não enxergue o nuance das relações estabelecidas entre as espécies. Veja bem, eu também gosto de uma história “épica” e Stellaris tem material de sobra para isso, porém não consegue pegar a essência intimista de Crusader Kings 2 ou Europa Universalis IV.
No que Utopia não entrega em diplomacia, ele converte para tornar Stellaris finalmente em um ponto aceitável para quem gosta de montar impérios “tall”. Ou seja, impérios onde o foco não é expansionista e sim estabelecer um poderoso em uma área pequena. As Ascension Perks, comentadas anteriormente, junto com as megaestruturas são o que carregam a responsabilidade.
A Paradox não transformou criar um império “tall” algo fácil, o que era o meu maior receio, mas tornou a curva de desenvolvimento mais suave. Estações espaciais agora podem alojar fazendas, um incrível bônus em alimentação e mais espaço para construção de minérios nos planetas. A própria reestruturação dos postos de fronteira com um custo reduzido pela Tradition Tree resulta em uma expansão tímida sem a necessidade de investir em um novo planeta.
Já as megaestruturas são um negócio completamente diferente e, possivelmente, a minha adição favorita de Stellaris: Utopia. Elas invalidam completamente um sistema solar e tem um requerimento absurdo de materiais, no entanto os bônus de alimento, produção tanto elétrica como de minério justificam o custo. Isso é, além de serem definitivamente agradáveis aos olhos.
Outras adições menores, como um consumo global de alimentos, taxa de manutenção para população de acordo com estilo de vida e doutrinação de espécies primitivas para a sua ideologia são muito bem-vindas. Segue a temática de “organização” do resto da expansão e cria-se um grau de interação e necessidade de mais atenção por parte do jogador. Pode parecer que muitas dessas adições podem ser ignoradas, mas junto com a questão de felicidade e o aumento do perigo das facções, basta alguns descuidos para que a situação vire uma bola de neve e desestabilize a partida.
Utopia é o primeiro passo sem titubear da Paradox em Stellaris. Ele está mais variado mecanicamente, sem tanta dependência de histórias para empurrar a jogabilidade para frente e com um late game mais robusto. Stellaris ainda é um jogo cheio de arestas a serem arredondadas e dado o histórico da Paradox, não é algo incomum. Mesmo que venha a não comprar a expansão de cara, a atualização 1.5 (Banks) já é mais do que motivo para ao menos dar uma segunda chance.
Stellaris: Utopia
Total - 8
8
Utopia e atualização 1.5 finalmente colocam Stellaris em um patamar mecanicamente bem trabalhado. Há muito a ser refinado? Com certeza, mas agora o game começa a tomar forma e a merecer fazer parte definitiva do catálogo da Paradox.