Em um gênero que voltou aos holofotes devido a ao sucesso de Yooka Laylee no Kickstarter, Snake Pass aparece como quem não quer nada, e se torna um dos melhores jogos da década. O jogo está disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One e Switch, a partir de R$ 36,99.
Em Snake Pass controlamos Noodle, a cobra mais fofa da indústria dos games. Após um pássaro destruir vários portais do seu mundo, cabe a ela e o beija-flor Doodle trazer a paz ao lar.
Jogos de plataforma, quando não chamados “Mario”, raramente estavam no pódio de melhores jogos. Lembramos deles com carinho, mas acabam sendo algo notável mais pela soma das suas partes. Jogos como Banjo Kazooie não apresentavam um jogabilidade exatamente complexa e que dependiam bastante de upgrades de movimentação para gerar uma sensação de evolução da jogabilidade ao invés de variedade de inimigos, por exemplo. Já nas tentativas modernas, vemos aspectos de outros gêneros serem misturados, como Dustforce, que traz um Time Attack e faz terminar as fases de maneira mais rápida e otimizada seu atrativo principal.
Snake Pass questiona esse padrão de jogos antigos e modernos, e então se foca no que devia ser mais importante, e melhor, em jogos de plataforma: o movimento e transversalidade do seu personagem principal e a interação deste com os quebra cabeças. Apostando em um sistema mais realista, o jogador deve levar em conta fatores como peso e atrito de Noodle ao se mover pelas fases e quebra cabeças.
Apesar de soar inicialmente complicado, demorou muito pouco para me adaptar ao sistema e se tornar algo incrivelmente natural. Mesmo morrendo inúmeras vezes nunca me cansei de controlar o Noodle, ao me entrelaçar nos mais variados bambus espalhados pelas fases.
Pode-se dizer que em jogos de plataforma a diversão principal está em encontrar todos os colecionáveis, mas Snake Pass muda um pouco esse paradigma. Sim, você vai querer conseguir tudo, mas a força que lhe move para isso é o justamente a granularidade do sistema de movimentação.
Em vários momentos me via pensando “colecionar todas essas moedas vai me dar mais tempo de jogar com o Noodle e ver como ele se adapta às situações.” Numa comparação meio esdruxula da minha parte, é como se aquele sentimento de realização que temos quando derrotamos um chefe difícil acontecesse de forma ininterrupta em Snake Pass, e devido a isso, por mais que ainda falte aquela última moeda para completar a fase, o backtracking não se torna nem um pouco cansativo.
Em nenhum momento do jogo me senti injustiçado pelos desafios e quebra cabeças ali me apresentados. Mesmo aumentando a complexidade dos seus desafios, o jogador sempre tem em mãos todas as ferramentas necessárias para vencer. Tal qual uma cobra na vida real, a paciência se torna sua maior companheira.
Snake Pass aumenta a sua complexidade de uma maneira interessante. Como já temos a mecânica de movimento estabelecida desde o início, a cada cinco fases, são introduzidos novos mundos, que trazem consigo variáveis. No segundo mundo, por exemplo, somos apresentados a água, onde itens e quebra cabeças agora a utilizam. No terceiro mundo, lava, onde devemos evita-la a todo custo. Dessa forma, você nunca permanece no mesmo mundo por muito tempo, e novos desafios e fatores são sempre apresentados, tornando a novidade algo constante durante a sua progressão.
Enquanto é comum atualmente na indústria AAA criar-se primeiro a história, e aí pensar numa jogabilidade que caiba, aqui é perceptível em todos momentos e pergunta “como posso criar um jogo a partir desta mecânica? ” Snake Pass brilha neste sentido, e demonstra constantemente o quão polida foi essa mecânica.
Os outros aspectos do game não ficam muito longe de brilharem tanto quanto Noodle. Apostando em gráficos mais cartunescos, que demonstra inspirações em jogos como Banjo Kazooie, Snake Pass consegue andar nos dois universos.
Em uma das melhores decisões da Sumo Digital, somos contemplados com uma trilha sonora feita pelo David Wise (Donkey Kong), já bastante experiente no gênero. Se a jogabilidade sozinha já me fez querer continuar a jogar, a trilha sonora torna a prática uma obrigação. O mesmo pode ser dito do design da Noodle, que nos agraciou com a cobra mais carismática e expressiva, mas não de forma gratuita. Além de me fazer sorrir durante o jogo inteiro, essas expressões são usadas também como ferramenta para indicar ao jogador se Noodle está bem posicionada ou não naqueles quebra cabeças, e se a possibilidade de cair é iminente ou não.
Com um foco e polimento raro hoje em dia, Snake Pass é cativante, e em pouco tempo, tal qual Noodle pelas fases, agarra o jogador e não solta, se tornando uma das experiências mais inovadoras em jogos da última década.
Snake Pass
Total - 10
10
Se o foco extremo em mecânicas e o polimento foi deixado para trás nos últimos anos, Snake Pass resgata isso da melhor forma possível. Moderniza o jogo de plataforma com uma simpática cobrinha, traz um sistema de movimentação agradabilíssimo e se torna uma das experiencias mais refrescantes que já tive o prazer de jogar recentemente.