Você gosta de tomar susto? Não? Que bom, nem eu. A Red Barrels também, pelo visto, sabe disso e Outlast 2 não é um jogo para dar sustos. É um para te fazer sentir acuado, nervoso e desesperado. Se por um lado certamente faz isso melhor que o primeiro, também dá alguns passos para trás. Ele está disponível a partir de R$55,99 para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
A trama começa com um casal de jornalistas, Blake e Lynn Langermann, atrás de mais detalhes sobre a misteriosa morte de uma jovem na região do Arizona. Um clarão atinge o helicóptero que os transportavam, sofre um acidente e Lynn desaparece.
Vejo Outlast 2 como uma obra de três atos que disputam entre si pela atenção do jogador e acabam por falhar em conjunto. Como todo bom jogo de terror, a Red Barrels opta por uma introdução lenta, lentamente adicionando os principais elementos que constituem Outlast 2 — exploração, esconder e garantir que possui tanto ataduras quanto baterias suficientes para a jornada. Então começa a desenrolar o nó da trama, que mistura temas religiosos, um pouco de ocultismo e a motivação para encontrar Lynn e entender melhor o que acontece na cidade.
Daí para frente o jogo toma uma dinâmica de explore uma área por alguns minutos, se esconda um pouco, enfrente uma cena de perseguição e descanse mais um pouco. Algumas quebras, que prefiro não comentar, dão um toque de variedade, mas não o suficiente.
Pelo um ponto de vista de gameplay, não há nada de terrivelmente errado com Outlast 2, mas ele se esforça tanto em mostrar o quão “maior” e mais “variado” ele é em relação ao ambiente claustrofóbico do antecessor que esquece de parar e deixar que o jogador aprecie os locais com mais calma. Às vezes chegava em uma nova área e pensava “Ok, este local é interessante, eu vou ver o que te- pera, tem alguém me seguindo” e meu foco virava todo para sobreviver.
A inteligência artificial dos inimigos, consideravelmente aperfeiçoada, torna necessário o dobro de atenção para onde e como navegar pelas áreas mais abertas. Mas, assim como aconteceu em Alien Isolation, em momentos a IA trabalha em detrimento da ambientação por ser “esperta” demais. Não que eu pense em desmerecer o trabalho da Red Barrels, já que este era um dos pontos que foi criticado no primeiro game, apenas que isto é um segundo elemento para o aproveitamento.
Deve se entender a diferença entre uma IA “fácil”, uma que cria harmonia de dar liberdade para o jogador e o mantém atento, e uma que impõe empecilhos demais e prejudica próprio ato de jogar. Por conta da “necessidade” de fazer com que o jogador se sinta constantemente sufocado, Outlast 2 não consegue encontrar este equilíbrio. Partes do segundo ato, que começa mais ou menos a partir da metade do game, demonstram um paralelo do que eu senti em Nostromos em Alien Isolantion: Informações vomitadas na tela e dificuldade de acompanhar o que acontece.
A mitologia criada para o mundo de Outlast 2 e a forma como a Red Barrels insere os temas religiosos com a ligação de Blake e sua esposa não é inovador, mas é bem trabalhada com apenas um pequeno — e importantíssimo detalhe — você não tem a imagem completa se não ler as notas espalhadas pelo cenário. Adivinha quem tem tempo para isso? Certamente não o jogador que provavelmente está se escondendo ou fugindo de algum fanático religioso.
Essa coleção de “micro-histórias” como as chamo, são a chave para demonstrar o quão a Red Barrels foi além na confecção de um “lore” para o game. Estas normalmente estão acompanhadas de uma cena, ou uma pequena pista no ambiente do que pode ter acontecido antes da chegada do casal.
Dois jogos que fazem muito bem o uso do ambiente para contar histórias são tanto Fallout 3, por mais problemas que tenha em outras áreas, e S.T.A.L.K.E.R.. Ambos confeccionam pequenos contos de terror pelo seu vasto mapa de maneira sutil, mas que servem para deixar o jogador inquieto com o que vem pela frente ou o que se passou. Mesmo que a execução dos acontecimentos possivelmente citados nessas pistas não seja lá das melhores.
Outlast 2 quer tanto que o jogador se sinta preso em uma caixa que ele não dá espaço para essas histórias florescerem. Você vai de um ambiente a outro, depois outro, depois outro, depois corre, depois cansa. E como cansa.
Meu problema com jumpscares, sejam em filmes ou em jogos, é que no instante que o décimo acontece, eu já estou imune a eles. É isto que se desenvolve com as cenas de perseguição de Outlast 2. São tantas e, depois de boa parte do jogo, tão frequentes que eu só esperava quando a próxima ia acontecer. Eu havia me dessensibilizado com os acontecimentos, com o mundo a minha volta, já estava preparado para apertar o Shift e correr que nem um maluco assim que os sinais de uma perseguição aparecessem. E com isto, a magia de Outlast 2 se quebra.
Se eu não tivesse me esforçado para voltar atrás algumas etapas e ler alguns dos documentos deixados para trás, a história poderia ter acabado sem pé nem cabeça. Os cenários, que são elevados a um grau de importância maior do que deviam por meio das mecânicas, passam em determinados aspectos a sensação de que não são coesos. Uma hora você está em A, depois em B. Quase que uma síndrome Dark Souls II de passar um senso de “aventura” sem dar uns passos para trás, parar e pensar “será que a diferença de áreas não está um pouco gritante demais? ”.
No medo de parecer uma atração de parque de diversões — linear e enclausurada — Outlast 2 tenta tanto se distanciar do conceito que volta para a estaca zero. É um bom game de terror com os seus momentos e que merece aplausos em áreas como o ótimo trabalho de iluminação, trilha sonora, ambientação e na própria ambição da Red Barrels em melhorar áreas que tanto eles quanto os fãs julgaram fracas no primeiro jogo.
Ambição, no entanto, nem sempre atinge os resultados que se espera e por mais que Outlast 2 tente, ele não consegue colher todo o seu potencial. São os problemas de cadencia, de não dar espaço para o jogador ter voz e poder ter melhores oportunidades de adquirir conhecimento sobre o mundo a sua volta que o jogam para baixo. Instigar a sensação de desespero por meio de um jogo não é algo fácil e a Red Barrels provou-se duas vezes capazes disto. Agora é hora de fazer com que os outros elementos do game acompanhem.
Outlast 2
Total - 7.5
7.5
Outlast 2 acima de tudo, é um bom jogo de terror, mas que não consegue enxergar seu próprio potencial e, na tentativa de fugir dos estereótipos do gênero, acaba por cair neles. Não decepciona quem já é fã da Red Barrels, mas — ao contrário dos fanáticos religiosos do game —, não converte ninguém.