Após o termino de uma corrida, mais uma vez com uma péssima posição, recebo um irritado email do meu piloto principal minutos após trocá-lo pelo reserva. “Eu mereço ser o piloto principal!”, ele diz. Mas a decisão já havia sido feita. Motorsport Manager, mais que muitos “managers” por aí, é um jogo de decisões que devem ser tomadas em um piscar de olhos. Ele está disponível no Steam por R$63,99.
Da mesma forma que Football Manager, Motorsport Manager está ciente do público que quer atingir sem destilar o esporte automobilístico em algo raso. Não é um jogo para aqueles que pensam que a corrida se resume em meia dúzia de carros na pista sem nenhuma tática. Não usar táticas equivale a ficar em último lugar, um diretor furioso e provavelmente desempregado.
Dito isto, ele ainda consegue mostrar ao menos os sistemas básicos para quem quer adentrar este universo por meio de um conciso e bem trabalhado tutorial. Todo o processo de escolher pneus, táticas para uma partida e a interface em geral é bem “simples” e pode ser aprendido em questão de minutos. Os nuances, entretanto, estes que são os mais interessantes para mim.
Motorsport sabe quando soltar a mão do jogador e deixa-lo experimentar com as mecânicas. Você quer entender o básico? Perfeito, agora você quer chegar em primeiro lugar? Boa sorte apanhando e descobrindo as melhores rotas e hora de tentar uma ultrapassagem ou não.
É uma ótima demonstração de acessibilidade X complexidade. Os recursos que você precisa são tangíveis, fáceis de serem visualizados na tela de forma prática. Entretanto, entende-los requer um longo estudo sobre o funcionamento de cada pista, poder dos pilotos e os limites de sua máquina.
A prova disto veio na terceira corrida de um dos três modos de carreira disponíveis, o da categoria de base. Meus pilotos eram relativamente fracos em curvas, mas ótimos em retas. Vinte voltas com uma previsão de tempo de chuva nas primeiras dez. O primeiro questionamento era: Qual o melhor momento para o pit-stop? Os pneus são gastos ao longo da corrida, o combustível acaba, é preciso ficar de olho constante na estratégia das outras equipes e usar aqueles segundos cruciais para ganhar algumas posições.
O sistema de decisões de corrida é relativamente “limitado”. Você pode indicar para que um dos seus pilotos tente ultrapassagens mais ousadas ao custo de mais gasto de combustível e pneus, ou tente prender o oponente de ganhar posições para que outro tenha a chance de chegar mais próximo ao pódio.
Tais opções não vem sem consequências, obviamente. Aquecer os freios e os pneus durante a corrida resulta em menor atrito na pista e pode fazer com que a tão sonhada volta de ouro fique apenas no papel.
Com os olhos grudados na tela, comecei a traçar minha rota para a suposta vitória e anotar em um papel. “Ok, vamos parar na 8ª volta, trocar para pneus intermediários e quem sabe manter uma posição de vantagem.” Mas, esqueci momentaneamente que era um manager, que o controle está lá mas a imprevisibilidade também. Duas voltas antes do término o meu carro principal, em quinto lugar, sofreu uma falha mecânica e teve de abandonar a corrida. Meu piloto secundário? Na penúltima posição enquanto fazia reclamações sobre o desempenho de um piloto à frente dele.
Com a corrida finalizada, o dono da equipe não estava nada satisfeito e meu trabalho em risco. Mais decisões, trocar o piloto secundário para o reserva e buscar um novo piloto para minha equipe. Trabalhar com pessoas não é algo fácil e Motorsport Manager dá conta de mostrar o básico sobre isto. Alguns pilotos são fáceis de interagir, outros acham que são deuses, enquanto na hora do “vamos ver”, ficam em posições terríveis.
Tal tratamento de personalidades se estende também para a interação dos pilotos com os mecânicos, o que pode trazer mais vantagens no desenvolvimento de peças. Digo, exceto um piloto que só reclamava com o mecânico que o carro não estava de acordo com que ele achava perfeito. Nesta altura eu já estava “ah meu, corre com o que tem aí e depois eu me viro para consertar os problemas”, não sou muito paciente com egos, perdão.
Entre lidar com egos, assinar novos patrocinadores na tentativa receber um bom investimento para aplicar no setor de pesquisa, ainda tinha de lidar com um patrão descontente, chances contra o meu favor e navegar sobre uma planilha da corrida anterior para tentar decifrar qual a estratégia mais fraca no momento. Muita coisa para fazer? Sim. Me sentir sobrecarregado? Jamais.
Para um jogo cuja velocidade é seu sobrenome, Motorsport Manager atinge um grau de leveza atípico. A mistura de uma interface “objetiva” e objetivos claros colabora com isto. A cada dia que passava eu tinha noção do que fazer, onde melhorar. Muitas coisas não deram certo, partes que eu apostava que iam me dar a vitória na próxima corrida deterioraram mais rápido do que imaginava e meus pilotos não conseguiam a pontuação para sequer ficar entre os oito primeiros.
Foi uma primeira temporada frustrante de um prospecto administrativo, mas recompensadora como um jogador. É um dos pontos que muitos “managers” falham, tornar a frustração algo com que você possa se identificar e seguir em frente. Quando eu perco uma partida em Football Manager, Out of The Park Baseball, minha vontade é de fechar o jogo e sequer ver as estatísticas as quais tornaram essa derrota viável. Como se um sentimento me impedisse de aceitar que eu tinha todas as chances e ainda assim falhei.
Motorsport Manager não, ele inconscientemente te motiva a seguir em frente apesar dos erros. Mais que outros esportes, o automobilismo é menos sobre encontrar os números perfeitos, mas uma oportunidade única em campo, aquele momento de falha que te dará a vitória. É um dos motivos que me faz acompanhar tanto diversas modalidades do esporte. Algumas vezes tento convencer meus amigos e amigas a verem as 24h de Le Mans, nem que por alguns minutos e sempre é um momento mágico para mim.
Ao final da primeira temporada, há a possibilidade de alterar algumas das regras para melhor se adaptar ao design do seu carro ou garantir uma superficial vantagem para a equipe. O mesmo pode ser aplicado ao design de certas peças, com a chance de ser pego e tomar uma bela de uma multa. Por sorte não aconteceu até então comigo, ufa.
Algumas coisas ainda passam a ideia de serem um pouco “preliminares demais” para o meu gosto, como a não existência de um sistema mais elaborado de telemetria entre os dias de prática e qualificatória. É possível que esteja relacionado ao quanto o jogo simula um ambiente real de corrida e o grau de abstração do mesmo, mas ainda é cedo demais para fazer tais presunções em uma série que acabou de começar no PC.
Por ora, vou me manter nas categorias mais básicas até pegar o jeito e enfrentar os desafios que me aguardam quando estiver entre as maiores equipes do mundo. Não sei que tipo de pressão me aguarda, mas é um desafio que estou preparado para aceitar.
Ver meu ceticismo de um jogo mobile ser convertido para o PC se desfazer nas primeiras horas mostra o empenho da equipe de Motorsport Manager de conseguir prover no momento um dos melhores managers automobilísticos que já vi. Por mais que veja áreas que devem ser melhoradas, é um pontapé inicial para uma franquia que tem tudo para crescer. De tantos “managers” lançados em 2016, este foi feito para mim.
Motorsport Manager
Total - 9
9
Um jogo que trata o automobilismo de maneira séria e ao mesmo tempo relativamente acessível para quem não conhece o esporte a fundo. Uma interface limpa e fácil de aprender faz com que você se prenda por horas na chance de chegar em primeiro lugar. A melhor equipe ou carro podem vencer a corrida, mas Motorsport Manager já ganhou meu coração.