Nos últimos dois anos a franquia Homeworld ressurgiu no mercado como uma Fênix, primeiro com a ótima Remastered Collection e agora Deserts of Kharak, o primeiro lançamento após doze anos sem novidades. Ele está disponível no Steam a partir de R$ 99,90.
Atenção: Esta análise não inclui o modo multiplayer.
Deserts of Kharak funciona como um prelúdio aos games desenvolvidos pela Relic. Ao contrário de batalhas espaciais impressionantes, a Blackbird Interactive nos traz a história da oficial Rachel S’jet e a jornada pelo deserto para encontrar a primeira anomalia, um artefado que permitiu os Kushan a conquistar o espaço.
Os antecessores sabiam balancear o ritmo da trama com a quantidade de missões e dessa vez a história se repete. As três missões iniciais são usadas para apresentar as principais mecânicas ao jogador, depois disso Deserts of Kharak já coloca a quinta marcha e sai em disparada para a linha de chegada. Cada missão com uma mecânica diferenciada ou algo para me manter entretido e não simplesmente apertar o botão de “sair”. Essa pressa apesar de manter a trama entretida acaba prejudicando o desenvolvimento dos personagens, que se tornam superficiais demais.
Quando chega a hora de controlar as minhas unidades, Deserts of Kharak apresenta uma jogabilidade parecida e ao mesmo tempo distante da franquia. A mudança no combate já é sentida de cara, sendo preciso reaprender como fazer melhor uso de suas unidades. A BlackBird Interactive optou por remover um sistema que julgava, e ainda julgo, crucial em Homeworld, as formações.
O jogo faz um interessante uso de posicionamento no cenário para determinar o vencedor de uma batalha. Unidades que estiverem em um ponto de vantagem alto terão bônus contra unidades que estão abaixo delas. No início achei genial, mas a ideia começa a perder o brilho no momento que ele não te dá as ferramentas necessárias para lidar com isso, sendo a formação uma delas.
Você tem um controle restrito sobre a disposição das unidades, que mais parece uma questão de sorte do que qualquer outra coisa. Nada mais frustrante do que ter parte do seu exército composto por tanques de longo alcance e não poder os posicionar de maneira eficaz no campo de batalha. Algumas vezes apontavam para uma direção onde não queria, outras iam correndo em direção a batalha mesmo após ter deixado explícito para que não se movessem.
Isso é, quando a própria inteligência artificial não decide piorar ainda mais a sua vida. Ainda não sei definir se era um bug ou um problema generalizado, mas inúmeras vezes perdi tanques por não contra-atacarem os oponentes. Comandante ou babá? Ainda não me decidi.
Por mais que esses problemas pareçam graves, não tiram a coroa de Homeworld: Deserts of Kharak como um dos games que melhor trabalhou com informações na tela e ao mesmo tempo não as torna cansativas. Por mais intensas que ficassem as batalhas, era só apertar a barra de espaço para alternar para a visão estratégica, ter uma melhor percepção das minhas unidades e como usá-las para derrotar o inimigo.
De volta para a camada tática, as unidades também são fáceis de serem diferenciadas e podem afetar consideravelmente a composição do seu exército. Veículos de combate ágil contam com uma habilidade especial para aumentar a velocidade, assim reduzindo o espaço entre eles e o oponente e possivelmente acabando com o bônus de altura. Tanques podem usar granadas de fumaça para despistar o oponente temporariamente e por aí vai. Acertar o balanço entre cada uma delas é essencial para vencer. Não adianta colocar uma meia dúzia de tanques poderosíssimos que serão trucidados pelos caças da força inimiga.
Novamente o quase impecável ritmo mostra para que veio e aprender as composições de unidades é tão natural quanto movimentá-las. Um esforço excepcional da Blackbird Interactive de mostrar que jogos de estratégia não são o equivalente de um monstro de sete cabeças de tamanha complexidade, basta um aprendizado por meio do exercício.
Não significa que Homeworld é fácil, as missões variam do médio para o muito difícil constantemente, eventos como montar uma impressionante defesa ou atacar um forte oponente são os principais componentes para avançar. Algo que ela faz muito bem, assim como seus antecessores, é manter o jogador em constante movimento. Cada nova missão é um novo ponto do deserto, a ideia que cada vez mais você está dentro do território inimigo, que os ataques irão se tornar piores e mais frequentes. Tudo isso até um final que, pode não ser o mais bem elaborado de todos, mas satisfatório o suficiente para um fã da franquia.
Em meios a tantos acontecimentos constantes, mal tive tempo para apreciar o impressionante trabalho artístico da desenvolvedora tanto no ambiente quanto nas unidades. A premissa de se passar unicamente em um deserto não me agradava de início justamente pela possibilidade de que os cenários começassem a parecer repetitivos. Felizmente isso nunca aconteceu, cada mapa tem uma identidade visual forte, sejam elas majestosas dunas que se espalham por quilômetros a pequenas montanhas que surgem no meio do cenário e trazem um ar de familiaridade, mas ao mesmo tempoo sentimento de estar em um planeta “alienígena” para nós.
O mesmo trabalho vai para as unidades e efeitos especiais. Não falo apenas do design, mas como cada uma delas conseguem trazer a ideia de algo palpável, de que algum dia uma delas pode existir de uma forma ou outra na realidade. Cada unidade reage de maneira diferente ao terreno acidentado, como os veículos de ataque leve e suas suspensões que se ajustam a cada solavanco ou os tanques que dão um breve coice a cada disparo.
Uma pena que parte disso foi perdida quando tive que reduzir a qualidade gráfica por conta de problemas na otimização. Nem mesmo nas opções gráficas mais baixas e um PC acima dos requisitos recomendados para o game eu atingia uma taxa de quadros por segundo razoável; o que piorava à medida que mais unidades e explosões recheavam a tela.
Homeworld: Deserts of Kharak parece ter vindo de uma realidade alternativa, onde jogos de estratégias não são moldados exclusivamente para o competitivo nem requerem horas e mais horas de guias para se tornar minimamente competente. Eu sei que nem tudo é perfeito, mas voltar a este fantástico universo, mesmo que por algumas horas, é simplesmente maravilhoso.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Gearbox