Você está pronto para explorar o espaço? Conhecer novas espécies? Visitar planetas que nunca imaginou que existissem? Não? Que bom, você não vai fazer nada disso em Halcyon 6: Starbase Commander, apenas morrer milhões de vezes. Mas, não se preocupe, é divertido morrer. O jogo está disponível no Steam ou GOG a partir de R$ 36,99.
Dizer que Halcyon 6 é um pouco de XCOM no espaço não é uma maneira ruim de descrevê-lo, porém uma péssima forma de realmente apresentar o que é. Se trata de um daqueles jogos onde você tem de tirar o melhor proveito de uma situação terrível e quando os dados estão a minha desvantagem é quando me divirto mais.
A premissa gira em torno de uma antiga estação espacial deixada por uma raça antiga e agora controlada por humanos. Em determinado momento uma raça alienígena surge de portais, e começa a tomar conta da galáxia. Com recursos extremamente escassos o jogador tem então de lidar com esse problema, explorar a estação, remover escombros para a instalação de novas áreas e obter material para ampliar a frota, pesquisar novas tecnologias e realizar reparos. Para piorar ainda tem de lidar com outras facções que compartilham o mesmo espaço, e obviamente elas não tornam a situação nada amigável.
Apesar do relativamente bom tutorial, as primeiras horas de Halcyon 6 podem se tornar um exercício de paciência enquanto você navega pela interface e começa a entender os nuances de cada elemento que compõe todas as mecânicas. A interface segue um estilo minimalista, talvez minimalista demais para meu gosto ao ponto de esconder informações que julgo importantes. Por exemplo, eu só fui perceber a quantidade de quests que não havia feito quando verifiquei a aba de quests, já que presumi que todas seriam notificadas automaticamente.
Depois disso vem a parte onde você começa a entender melhor a sua frota, e consequentemente o ponto que percebi o quão mais “profundo” Halcyon 6 é do que nas impressões iniciais. Cada nave deve ser manejada por um oficial — que possui um conjunto de habilidades especificas — e tem seu papel a desempenhar no combate.
A medida em que progredia eu notava o quão importante era em não perder esses oficiais, talvez muito mais do que em XCOM. Recrutar oficiais não é algo que pode ser feito com facilidade no início e eles servem tanto para expandir a base, criar matérias — usadas desde a construção de naves até o desenvolvimento de novas tecnologias — e obviamente no combate.
Para cada ponto que supostamente poderia perder em não me deixar “personalizar” meus oficiais, me sentia muito mais preso a eles graças aos seus esforços nas áreas em que eram especializados Era como desenrolar uma pequena história em minha mente, sobre como o primeiro oficial foi capaz de segurar uma frota pirata de atacar a minha base, expandi-la para a construção de duas salas essenciais para progressão e ainda sobreviver para ver o fim da história. Não, eu não pude escolher a cor dele nem mudar o cabelo nem nada, mas fiquei feliz por todo o esforço e os momentos que quase morreu devido a péssimas escolhas de batalha.
No fim das contas, o combate é o que importa nesse tipo de jogo. Foi um alívio ver que a Massive Damage não só fez um sistema competente, como um inteligente. Tipicamente separo combate por turnos em duas categorias: um que sabe seus limites e trabalha em cima deles e outro que tenta de tudo um pouco e falha em todos os aspectos.
Halcyon 6 tem um combate em 2D inteligentíssimo que sabe que se o jogador tentar ganhar as partidas na base da “força bruta” com ataque simples, vai falhar. É preciso entender o papel que cada nave desempenha em campo para usá-la da maneira mais eficaz possível. Naves Tactical tendem a ter ataques que fazem melhor uso de uma nave que está com os motores desligados — considerados pelo jogo como um “debuff” — enquanto naves Engineering oferecem suporte e danos aplicados automaticamente no início de cada turno. Por fim as naves do tipo Science incluem habilidades que podem reduzir a chance de acerto, desativar temporariamente naves ou aumentar a armadura da sua frota.
Halcyon 6 vira um quebra cabeça de encaixar o oficial certo com as habilidades certas na nave feita especificamente para ele e saber a hora de usar. Me lembra de certa forma o combate de Shin Megami Tensei: Nocturne e Shin Megami Tensei IV, fazendo uso constante de debuffs para ganhar tempo e aplicar o máximo de dano no inimigo. Claro que ele irá fazer o mesmo com a sua frota e gerar situações ainda mais tensas.
Umas das que me lembro vividamente foi a minha presunção de que uma nave com 200 pontos de vida era menos importante (ou fraca) do que o monstro massivo com mais de 1000 pontos de vida. Ledo engano, após dois turnos as minhas naves estavam com uma penalidade de 25% de velocidade, o que deu dois turnos extras para o oponente. Com um golpe crítico, ela deixou uma das naves em estado crítico — uma mecânica que dá a chance de curar uma nave mesmo que ela fique com 0 pontos de vida. Para a minha sorte consegui bater em retirada e perder apenas uma nave. Uma lição que eu tomei para o resto da campanha.
Não tive o mesmo prazer quando o assunto era o combate terrestre, que felizmente ocorre com certa raridade em Halcyon 6. As criaturas não eram tão “diversas” e as habilidades por mais que tivessem seus charmes, menos empolgantes que as das naves. Toda vez que via um alerta de combate enquanto removia escombros da estação espacial para dar espaço para a uma nova sala — usada para a construção de novas tecnologias ou de materiais — me fazia revirar os olhos.
Existe, entretanto, uma pequena desvantagem ao fazer o combate ser tão brilhante assim, fazer com que todo o resto seja mediano. As missões que me eram dadas se resumiam basicamente em “vá até o local X e destrua inimigo Y” ou “Resgate colônia X ao destruir inimigo Y”. Até mesmo as mais elaboradas — que avançavam a história — eram alguma variação do que descrevi. O que por si só não é necessariamente ruim, já que o combate era o elemento principal para me motivar a cumpri-las, mas depois de umas cinco horas de jogo, começam a ficar chatas.
A Massive Damage até tenta torna-las mais interessantes com a inclusão de personagens e facções adicionais, e apesar de ver que é uma tentativa honesta de te fazer dar uma risada, o humor apenas não era para mim. Sim, o capitão pirata estranho que fala aos berros é de fato engraçadinho, mas não me deixava mais engajado em resolver o meu ou o problema dele.
O que me deixava engajado era o fato de que cedo ou tarde eu ia me ferrar, e me ferrar feio. Não tardou para que eu começasse a perder colônias devido a ataques inimigos. Se você não tem paciência para elementos aleatórios, ou “RNG”, passe longe de Halcyon 6.
Inúmeras vezes eu tive a minha chance testada com uma colônia que foi devastada mais cedo, o que reduziu minha produção de combustível, ou me vi demasiadamente restrito em “Dark Matter”, usado para a construção de naves e melhorias. Alguns tapas na mesa depois e eu estava de volta a ação preparado para devolver em dobro àqueles que destruíram a minha preciosa colônia. Sim, nada me dá mais motivação do que perder tudo e ter de recomeçar de novo, vai entender.
Pode ter soado que eu “desmereci” os outros aspectos de Halcyon 6, mas na verdade não é o caso. Se você gosta de personagens engraçados, o jogo tem algo para você, se você gosta de desafio e aquela sensação de tensão constante, ele também tem algo para você. É raro ver um jogo que engloba tantas facetas diferentes que não necessariamente se interligam de forma coesa e ainda sim você ver um pouco de brilhantismo — mesmo que não atendam ao seu estilo — em cada uma delas. Pegue sua nave, prepare sua frota, perca batalhas, vença-as, mas não deixe de dar uma chance a este jogo.
Halcyon 6: Starbase Commander
Total - 8.5
8.5
Um jogo onde decisões importantes devem ser tomadas em instantes e onde o combate é sublime. Missões podem se tornar repetitivas e as facções podem perder a graça com o tempo, mas não deixe que isto te impeça de aproveitar o quão divertido e intenso é Halcyon 6: Starbase Commander.