Dead Rising é um dos poucos jogos que eu gosto de pensar que “cresceram” comigo, não que eu não jogasse antes, apenas que eu comecei a gostar dele cada vez mais que fiquei mais velho. Após completa-lo no Xbox 360, fiquei feliz de ver que a versão PC não é apenas uma ótima conversão, também se mostra como um jogo bem diferente do que eu me lembrava. Ele está disponível no Steam a partir de R$39,99.
Antes de mais nada, vou poupar o trabalho de vocês me perguntarem sobre as sequências. Eu gosto delas? Não muito para ser sincero, ainda mais Dead Rising 3, que apesar de impressionar à primeira vista, caiu para um dos mais chatos da série. Não é tão culpa da Capcom como é da própria busca por mais “público-alvo” associado aos altos custos de produção.
Dead Rising é em primeiro lugar um jogo sobre gerenciar tempo e em segundo lugar um jogo sobre zumbis. Já proferi meu desgosto pelo tema muitas vezes neste site para sequer listar aqui. Como ele entra na lista? Por ser minuciosamente desenvolvido em torno de um limite de tempo, extremo backtracking e escolta de sobreviventes. Sim, o pior de tudo, são três mecânicas que eu absolutamente detesto, mas que eu consigo relevá-las neste jogo.
Grande parte disso vem de eu enxergar os zumbis como uma leve inconveniência, um obstáculo como em uma fase de Mario. Você pode optar por não os matar, se esquivar, criar rotas seguras ou ir completamente insano e passar duas horas empurrando carrinhos de supermercado, jogando marretas, discos, jóias neles. É o mesmo princípio posteriormente aplicado em jogos como Dying Light, onde um confronto direto nem sempre é a melhor solução para se mover de um ponto A e B. Claro que, neste caso, ainda muito rudimentar.
A primeira vez que morri em Dead Rising foi quase que motivo para quebrar o disco ao meio. “Como assim eu perdi todo o meu progresso? Isso é injusto!”, pensei, ainda sem entender bem o conceito do jogo. Ele não me punia, muito pelo contrário, me dava uma chance de aprender com base no que falhei anteriormente. É bom levar em conta que isto foi muito antes da explosão do permadeath, que aconteceria anos depois. Agora morrer me torna quase indiferente, pois me dá tempo para refletir onde eu errei, como posso melhorar a rota que fiz e onde minha falha ocorreu.
No fundo Dead Rising ainda parece “babá: o jogo”, onde todo sobrevivente parece ter alguma dificuldade de entender que mover pelo shopping não significa trombar com todos os zumbis que ver pela frente. Em parte, culpo isso a ainda fraca inteligência artificial e pathfinding do período, o que foi melhorado consideravelmente nas sequências em detrimento de todo o resto.
Olha, eu compreendo essa sede por matar zumbis, ainda mais com o robusto sistema de crafting implementado em Dead Rising 2 e ampliado no terceiro. Mas para mim é o que menos me interessa em Dead Rising. Depois de umas horas de jogo parecia que eu jogava um Musou com zumbis e não algo de gerenciar tempo e prioridades. E tudo bem se você quer isso, até pode ser feito (de maneira limitada) em Dead Rising 1.
Mas parece que todo tipo de jogador surta quando vê um timer, começa a correr atrás dele e acha que a vida dele depende de ele acertar esse limite. Perdi a conta de quantas vezes eu deixei um caso falhar por conta de não estar com paciência para lidar com aquilo no momento. Sim, você vai receber um aviso gigante “FAILED” na tela de casos ou “FULANO MORREU”. Argh, não ligo. Nem toque no assunto Dead Rising 3 por favor, que seguiu a linha de “Open World dá mais oportunidades para matar mais zumbis e consequentemente isso vai fazer o jogo divertido”, o que só tornou as caminhadas mais longas e a ação menos frenética.
Apesar da história ser completamente sem pé nem cabeça — e sinceramente não ligar para o que acontece na tela, mas eu prometo que existe algum semblante do que pode ser uma trama ali — Frank West é um personagem carismático. Vai me dizer que você não colocaria uma simpática cabeça de urso nele e veria toda as cutscenes presentes com esta cabeça para aumentar ainda mais o senso de ridículo?
A medida em que os anos passaram Dead Rising se tornou mais autoconsciente do quão não deve ser levado a sério nas mecânicas, enquanto tentava forçar goela abaixo uma história mais “madura”. Mais uma vez, culmina no desastre aos meus olhos que foi o terceiro jogo. Desculpe, mas não há como levar a sério qualquer história que envolve um homem vestido de Mega Man, uma cabeça de urso ou a opção de andar em um triciclo. Pelo menos o primeiro jogo sabia disso.
Claro que, mais uma vez, por ser um port de um jogo lançado há 10 anos atrás algumas das mecânicas são fracas como dito anteriormente, mas a principal é o sistema de mira. É como se alguém tentasse copiar o estilo de Resident Evil 4 em um jogo que não é Resident Evil 4 e ainda assim falhar absurdamente. Mirar uma pistola fica fácil no mouse / teclado e toda vez que tinha de usar trocava rapidamente do controle para ele.
Como ports medianos quase viraram a regra ultimamente, acho importante ressaltar que mais uma vez, a Capcom faz aquela conversão maravilhosa assim como aconteceu em Dragon’s Dogma: Dark Arisen. Leve, sem bugs aparentes e uma enormidade de opções gráficas para rodar em todo tipo de PC. Eu sei, eu sei, raramente comento sobre tais tecnicalidades, mas é importante ressaltar quando uma empresa faz algo certo (Sim, estou olhando para você Arkham Knight).
No fim das contas eu estou mais contente por mais pessoas poderem experimentar o primeiro Dead Rising, ter uma chance de preservá-lo e jogá-lo nos próximos anos do que apenas uma versão para PC. Falar que envelheceu bem é forçar um pouco a barra. Por outro lado, vejo como o único que tem a essência da série intacta.
Para quem jogou Dead Rising 2 ou 3, voltar para o primeiro é abrir mão de alguns dos refinamentos e “avanços” dados pela série. Não ligo o suficiente para eles para impactar a minha decisão de retornar para o Willamette Parkview Mall, lutar contra alguns zumbis e ainda tirar foto de cenas ridículas deles. É ótimo estar de volta ao primeiro Dead Rising e acho que não devo sair daqui tão cedo.
Dead Rising
Total - 8
8
Pode não ter envelhecido tão bem quando o assunto é jogabilidade, mas o primeiro Dead Rising ainda se mostra como o ponto alto da série, ciente de que devia ser ridícula e que tinha ambição na medida certa. Vá matar alguns zumbis, resgatar alguns sobreviventes ou tirar umas fotos como Frank West, espero que perceba o quão divertido é capaz de ser. Quanto as sequências? Prefiro imaginar que nunca existiram.