“Um pouco de sal aqui, agora amaciar a carne, jogar um tempero e…. eu estraguei tudo”. Assim se resumem minhas partidas de Cook Serve Delicious 2, a deliciosa (sem trocadilhos) mistura de puzzle, com arcade, intensidade e desespero me conquistou já nos primeiros minutos de jogo.
Assumo minha ineficácia e inexperiência em Cook Serve Delicious por quase não ter aproveitado o primeiro jogo, mas já conheço a Vertigo Games de outros tempos e seus games menores como The Oil Blue — um simpático puzzle cujos elementos podem ser encontrados no game que impulsionou a empresa para o sucesso — e ver essa fórmula aperfeiçoada me enche de alegria.
A jogabilidade se mantém basicamente inalterada do antecessor. Selecione o pedido dos clientes, os faça da maneira mais rápida e precisa possível e quanto maior a quantidade de acertos, maior é a pontuação do cenário e a quantidade de medalhas obtidas. Simples em teoria, um inferno na prática.
Cook Serve Delicious 2 basicamente te joga para os leões e manda um “se vira” nas fases iniciais. A não ser que você tenha parado para fazer os tutoriais — não integrados a campanha inicial — é bem provável que se dê mal.
Eu entendo que o conceito é de ser um chef, e um chef precisa estar preparado para emergências — apresentadas por meio do jogo como a Rush Hour. Dou sempre preferência para que certos gêneros tenham tutoriais interativos ou que se integrem de um jeito adequado à jogabilidade.
Ao mesmo tempo, não cairia mal de colocar alguns conceitos iniciais nos dois primeiros restaurantes ou ao menos nas duas primeiras fases para que o jogador pegasse o jeito. O resto viria com naturalidade. Por não fazer isso, a Vertigo automaticamente presume que o jogador já tem familiaridade com as mecânicas, o que não era o meu caso.
Primeiro comecei a jogar em um controle, visto que tinham me recomendado como o “preferencial”. Preferencial eu não sei para quem, alguém experiente em Cook Serve Delicious, eu diria. Na minha primeira empreitada como um chef de cozinha eu consegui errar um cachorro quente, três nachos seguidos e ainda um pretzel. Levando em conta que fui capaz de errar a quantidade de farinha que era necessária em uma máquina de fazer pão (ênfase na “máquina de fazer pão”), diria que a experiência está mais perto da minha realidade do que jamais imaginava.
Foi trocar para os controles do teclado, um pouco mais amigáveis para inciantes e comecei de vez a minha carreira de chef. Meus clientes agora saíam sorridentes com seus pratos, seus milk-shakes e começava a aumentar de nível e ter acesso a novos restaurantes.
O sistema de progressão tomou uma guinada inesperada em relação ao antecessor. Troca a personalidade de receber e-mails e realmente sentir que se está avançando na carreira por um simplório mecanismo de níveis e itens desbloqueáveis para personalizar o seu restaurante. Tal troca de sistemas de “conteúdo” ao contrário de “qualidade”, começa então a ser sentida em outras áreas de Cook Serve Delicious 2.
A variedade de pratos, que agora passa a ser de 180, funciona como uma faca de dois gumes. Cada novo restaurante era um novo processo de aprendizado. Me desesperava ao encontrar um prato louco com dezenas de variáveis, molhos, saladas, etc. Mas depois de algumas horas, se nota que essa variedade ainda fica de uma forma superficial demais.
Começa a existir uma certa padronização na preparação de pratos. Compreensível quando digamos que você está em um restaurante de fast-food, mas esperava um pouco mais de complexidade na medida que progredia no jogo.
Ele estabelece uma forma de jogabilidade no início: memorize os pratos e os condimentos e carrega isso pelo resto do jogo. A diferença é que Cook Serve Delicious não é Tetris, nem outro puzzle game cuja jogabilidade consegue se carregar sem uma temática por trás.
Mais uma vez o conceito entra em confronto com a progressão do personagem e do jogo de maneira geral. Primeiro é jogado aos leões, depois aprende a fazer os pratos e então o mesmo é estendido por vinte, trinta horas, sabe lá quanto tempo vai demorar para você completar a campanha.
É a mesma tecla que eu bato em outros textos meus, como o “simulador” theHunter ou as gigantescas áreas para se explorar de Dead rising 4. Os 180 pratos são muito bem-vindos, disso eu não tenho dúvida. Mas, é preciso mesmo ter uma campanha com inúmeras horas cuja evolução na forma que o jogador interage com o sistema permanecer o mesmo? Por que, quando se está avançado na campanha e em um restaurante de alto padrão — aquele cujos pratos não seremos capazes de pagar mesmo se economizássemos 300 reais ao mês — não adicionam novas ferramentas a Cook Serve Delicious 2?
Um ótimo ponto de inspiração para a Vertigo está em jogos cujo modo horda é o foco principal (Devil Daggers, Tormentor X Punisher). O loop de tais jogos é simples: sobreviva. Entretanto, a medida que o jogador desenvolve as suas habilidades e começa a enxergar padrões, novos elementos entram em cena e deixam o ato de jogá-lo muito mais prazeroso.
Em partes é o que sinto ao tentar o modo coop, que também soa como uma divertida adição no papel, pouco se diferencia de jogar a campanha. A base da jogabilidade permanece a mesma, e por mais que seja engraçado ver duas pessoas desesperadas para tentar preparar dois pratos ao mesmo tempo, ou tentar ajudar um ao outro, existe espaço para mecânicas que instigassem melhor essa interação.
“Potencial” é a palavra-chave que Cook Serve Delicious 2, e a Vertigo Gaming, precisa ter em mente daqui para frente. Não que o game seja ruim, muito pelo contrário, o conjunto das partes que o compõem o tornam uma sequência refinada; o que era justamente que eu imaginava que fosse. Meu tempo com ele foi divertido, aprender novos pratos — antes de cair na mesmice — foi um grande desafio, mas não deixo de pensar um tempo extra no forno traria um sabor especial a ele.
Cook Serve Delicious 2
Total - 7.5
7.5
A Vertigo Gaming optou por um refinamento da jogabilidade ao invés de uma evolução para Cook Serve Delicious2, e não há nada de errado com isso. Entretanto, algumas áreas da jogabilidade ficaram estagnadas, a adição do modo coop sem mecânicas mais variadas e interessantes para dois jogadores, e a quantidade de novos pratos não justificam a superficialidade em níveis avançados.