Décimo quinto turno, o time oponente ganha por um ponto, minha Amazona está a três espaços da área de touchdown. O dado rola, a jogadora cai. O apito final é dado e o time vencedor é declarado. Um misto de raiva e desgosto. Ah, sim, como é incrivelmente bom e frustrante jogar Blood Bowl 2. Que bom que a Legendary Edition (expansão, ou pacote completo para PC, Xbox One e PlayStation 4) me lembrou disso.
A bizarra fusão de futebol americano com Warhammer, consegue ser um pouco de “mais do mesmo” e também um importante passo em solidificar o game como a sequência que o primeiro Blood Bowl merece. Novas equipes, um novo estádio e pequenas melhorias. Queria ser capaz de me estender e explicar em detalhes as oito novas equipes inclusas na Legendary Edition, mas, sinceramente eu não sou um expert em Blood Bowl 2. Jogar com elas foi um dos momentos mais desafiantes que já tive com o jogo, principalmente por não seguirem um padrão que eu estava acostumado anteriormente.
Pegue os Ogres, por exemplo, uma equipe composta de quatro ogros na linha de frente e Goblins como jogadores de apoio. Por mais forte que sejam, os ogros são burros e podem não entender a ação que o foi designada. Além disso são lentos e equipes mais ágeis podem desviar de seus golpes com facilidade. Restava aos goblins, frágeis, porém difíceis de serem atingidos para fazerem todo o trabalho de pegar a bola e marcar o touchdown.
Eu sei que pode soar algo típico para quem tem umas 300 horas de jogo, mas para mim foi uma tremenda novidade. Estou acostumado com equipes relativamente simétricas, com suas forças e fraquezas equilibradas. Eu mesmo uso os Orcs como minha equipe principal principalmente por conta da força deles e como eu consigo controlar o campo.
Alguns dos momentos mais hilários ficaram para as minhas trágicas tentativas de montar equipes mistas. A Legendary Edition permite que você tenha mais de uma raça na sua equipe, o que rapidamente vi como uma grande vantagem.
Montei uma equipe, a qual carinhosamente chamei de “agoravai” (era a minha sétima tentativa) com uma mistura de Norses, Khermi e ogros. Não seria uma composição tão ruim se houvesse alguma sinergia entre elas. Os ogros teimavam em não fazer as jogadas que escolhia, os Khermi são lentos e frágeis. Ao menos os Norse têm uma boa defesa, a minha salvação para não perder partidas por 4×0 ou 5×0. Já tinha deixado de ser uma equipe por volta da quinta partida e era uma vergonha ambulante. Como falei, estou longe de ser bom em Blood Bowl 2.
Ter de mudar para táticas pouco ortodoxas, como jogar com os Ogros ou com os Halflings — que são o melhor exemplo do pior time do mundo, sem capacidade de jogar uma bola e com apenas uma árvore gigante na defesa— são parte do que me fizeram voltar de cabeça para Blood Bowl 2. O segundo, e mais importante aspecto, está na Eternal League.
A franquia da Cyanide Studio nunca foi boa quando o assunto é conteúdo para um jogador, e depois de participar de inúmeras ligas onlines de Blood Bowl (e perder quase todas as partidas), era difícil voltar para a campanha ou ligas offline. A Eternal League é um modo “infinito” que gera equipes e torneios que ocorrem ao longo de temporadas — verão, outono, inverno e primavera. É uma opção excelente para alguém que não tem mais tempo para participar de partidas online.
Junto a isto vem uma tão necessária melhoria na inteligência artificial, um dos pontos que mais critiquei na minha análise inicial. Acabou aquela história do computador apenas criar um box-in (fazer um quadrado de defesa em volta do jogador) e agora partir para jogadas mais arriscadas. Agora é mais comum ver times dispersados em campos, o aproveitamento de um mal posicionamento da equipe do jogador, maior uso de táticas agressivas e uma diferenciação de estratégias por equipe, o último item algo que sempre senti falta em Blood Bowl.
É engraçado a diferença que dois anos fazem na sua vida, celebrar tais melhorias era algo que jamais imaginava pois antes eu podia sentar e jogar uma, duas, três partidas de Blood Bowl sem me preocupar. Hoje em dia se eu arranjo tempo para respirar, assistir uma série, poder ter um momento para mim é quase um milagre. Por conta disso que eu nunca senti falta da opção de poder salvar durante a partida, uma das novas adições gratuitas tanto para a Legendary Edition quanto para quem possui o jogo base. Além do que, ajuda bastante na hora que você acaba de apostar tudo em uma jogada que dá errado e você quer fechar o jogo e não olhar para ele pelos próximos três dias.
Por mais que todas essas melhorias sejam o mais puro amor para qualquer fã, a Legendary Edition não resolve uma falha séria da série desde que uma versão digital foi lançada: Ensinar as mecânicas.
Blood Bowl é um jogo repleto de minuciosidades que podem e vão passar despercebidas por qualquer um que não gastar no mínimo umas vinte horas para aprender na marra. Viu uma jogada que falhou? Pode ter sido somente um resultado desfavorável dos dados — coisa que acontece, ao ponto de fazer XCOM ser um jogo que nem me irrita mais. Você conseguiria entender que dois jogadores um ao lado do outro podem gerar + 1 de força, mas há casos onde isso não acontece? Não, pois o jogo não explica. Praticamente todas as jogadas são decididas na base de dados e, a não ser que você ative as descrições detalhadas no menu de opções, você não vai ter a menor noção do que de fato aconteceu.
Olha que eu sequer cheguei na parte de gerenciamento de equipe. Ao término de cada partida os seus jogadores podem evoluir e receber habilidades especiais. Dentre elas estão bloqueio, maior chance de desviar de investidas, atributos específicos da raça. Só te desejo boa sorte em descobrir qual a melhor opção para a equipe, pois novamente o jogo faz um terrível trabalho de explicar satisfatoriamente.
Eu já sei o que você vai me dizer “É só ler o guia, é só procurar tutorial na internet”. Entretanto, Blood Bowl já é uma franquia relativamente pequena e difícil de se aprender. Precisa dificultar ainda mais as coisas? O guia presente no jogo é uma piada de mau gosto, um link para um site que ensina os básicos que não é só difícil de navegar, em partes vai te deixar mais confuso por não ter sido atualizado desde o lançamento do jogo-base. O mais bizarro é saber que o primeiro Blood Bowl veio com um manual competente e a sequência, que foi em partes simplificada, não.
Isso não me faz desgostar de Blood Bowl 2: Legendary Edition, só vejo como uma oportunidade perdida. Já é difícil tentar explicar para as pessoas o que torna futebol americano com Warhammer algo atrativo (sem contar a parte que você pode chutar e socar os oponentes), e ver que os recursos de aprendizados continuam falhos, me entristece.
Vou continuar a jogar Blood Bowl 2: Legendary Edition, vou fazer minhas equipes mistas, treinar novas táticas, aproveitar o novo conteúdo. Eu espero, de verdade, que a Cyanide consiga resolver esse problema de aprendizado, pois assim que você pega o jeito, é um dos jogos por turnos mais viciantes que já joguei. Agora, se você já passou por todo esse aprendizado, faça um favor a si mesmo e pegue a expansão. Nos vemos em campo.
A análise foi feita com base na versão PC enviada pela Focus Home Interactive.
Blood Bowl 2: Legendary Edition
Total - 8
8
Uma agradabilíssima expansão que adiciona variedade nas equipes e finalmente um modo para um jogador relativamente robusto. Essencial para quem já é relativamente experiente no game, mas ainda falha em ensinar de maneira satisfatória as mecânicas. Se estiver disposto a aprendê-las, espere uma curva de aprendizado bem alta. E que você tenha melhores resultados do que eu.