Para alguns, 4X são o tipo de jogo que você perde a noção do tempo. Em 2016, foi Ashes of the Singularity um dos poucos que chegaram perto de tomar o trono. Com a expansão standalone Escalation, disponível no Steam por R$ 72,99, mantém seu reinado como um dos meus jogos de estratégia em tempo real favoritos do ano.
Ashes of The Singularity: Escalation retém o mesmo foco na macroeconomia e macro gerenciamento de unidades. Não é um jogo que deve se entrar com uma mentalidade de Starcraft II, Company of Heroes ou outros. Partidas são ganhas ao saber equilibrar a quantidade de Quanta, Radioactive e Metal — os três principais recursos — e saber quando e como atacar.
Onde o antecessor “falhava”, na variedade de unidades, a expansão aumenta-as para um grau impressionante e sem diluí-las em “algo para preencher buraco”. A facção PHC, por exemplo, agora possui um pequeno robô capaz de conquistar territórios sem o apoio de unidades de ataque. Dado o sistema de suprimento baseado no controle de pontos, há uma maior chance de cortar a linha de recursos do inimigo e fazê-lo ter sua cadeia de produção interrompida.
Entrar em detalhes sobre a funcionalidade de todas as unidades seria suicídio, mas um ponto relevante é que todas elas são baseadas em “timing”. Não no sentido de apertar um botão, mas de analisar como a troca de pontos de controle e áreas de conflito tomam forma nos mapas.
Controle do mapa é a espinha dorsal de Ashes of The Singularity: Escalation, um sistema que evoca bastante o usado pela franquia Company of Heroes. Desta vez, com mais opções para defender e criar bases avançadas no mapa. Estruturas de defesa podem ser atualizadas para modelos específicos, como artilharias focadas em unidades terrestres ou equipamento antiaéreo com maior poder de fogo em situações específicas.
Tais estruturas incentivam a construção de bases avançadas, ainda mais nos novos mapas, que quase dobraram de tamanho para 96km². Sim, isto soa um absurdo e o combate ainda permanece esporádico e intenso ao mesmo tempo.
Começar cada partida dá aquela sensação de “clima pesado” enquanto determina funções para os construtores, captura, estabelece sua estratégia. É o resultado de duas forças que cedo ou tarde vão entrar em choque e o barulho que farão é ensurdecedor.
Mantenho-me impressionado com a capacidade da Stardock de pegar tantos elementos e conseguir manter a identidade de Ashes of the Singularity: Escalation intacta. Nunca devaneia demais para um novo Supreme Commander — apesar de agora ter a complexidade de um — tampouco se prende aos estilos tradicionais.
O ponto alto da expansão são as partidas de 14 jogadores, que pode ser melhor definido como insanidade e adrenalina a cada segundo. Mesmo com tantas unidades na tela e tantos pontos para prestar atenção, nunca te deixa ansioso por ser um jogo profundamente econômico e de formação de exércitos.
Em uma das partidas que fiz, com a inteligência artificial, que está melhor do que nunca, tive parte do meu exército dizimado por não prever que a área próxima a um dos pontos de controle estava bem defendida pelo inimigo. Por ter uma cadeia de produção sólida e um grupo de engenheiros capazes de acelerar a produção de unidades, reorganizei meu exército e troquei a composição dele para que atendesse a necessidade daquele ponto de defesa.
Caso esta espinha dorsal não estivesse bem estruturada, a partida teria acabado ali mesmo. O ponto que levantei no meu primeiro texto sobre Ashes of the Singularity se mantém verdadeiro, algumas batalhas são perdidas no momento que você as inicia.
Não há como entrar em combate com unidades de curto alcance e um dreadnought — a maior e mais potente unidade do FHC ou do Substrate — e esperar que ele dê conta do trabalho. Esta história de conta mágica, a build order correta para qualquer situação ou tentar bater em retirada de um embate são apenas sonhos.
Conceito reforçado pela inclusão de novos poderes orbitais de defesa, como aumentar temporariamente a proteção de equipamentos ou ativar uma redoma que impede que parte controlada no mapa não consiga ser revelada pelo inimigo.
O sistema de formação de exércitos ainda continua ligeiramente confuso para iniciantes, que basicamente condensa um grupo de unidades de acordo com a melhor posição — linhas de frente, artilharia ou média distância. Como tantos outros elementos, deve ser usado com cautela, já que o valor de movimento se é estabelecido pela unidade mais lenta de todas enquanto evita o máximo de perdas em combate.
Tudo isto torna como um longo jogo de poker, onde o jogador tem de saber quando mostrar as cartas enquanto faz a sua máquina de guerra fortalecida e bem alimentada. Assim, Ashes of the Singularity: Escalation permanece o mais próximo de um jogo em grande escala onde as mecânicas não acabam destiladas em “quem tem o maior exército ganha”. Apesar que os exércitos quase duplicaram de tamanho nos mapas para 14 jogadores.
Dado o aumento, a Stardock optou por inserir um nível de zoom adicional, bem similar ao visto em Supreme Commander ou Planetary Annihilation. Entretanto, ele serve como uma ferramenta secundária e não como uma forma de controlar as unidades. Mantém a ideia da desenvolvedora de que o efeito do combate não deve ser mensurado por ícones, o que funciona em Wargames, mas me decepciona em jogos de estratégia em tempo real.
Entretanto, a expansão acompanha uma nova interface que me deixa dividido. É funcional, porém aquém do original. Certas funções estão “escondidas” em menus que não fazem sentido. A Stardock já comentou que a interface anterior vai ser incluída em uma atualização futura, resta saber como adaptá-la as novas unidades.
Jogadores solitários ou que preferem uma campanha do que o modo batalha, ainda vão se sentir “abandonados” em Escalation. Apesar do dobro de missões, mantém demais a sensação de que a Stardock desenvolveu um jogo multiplayer e após isto, a campanha.
Não há nada de errado nisto, afinal, boa parte do ano gasto com Ashes of The Singularity foi entre partidas multiplayer e tentativas (falhas) de vencer a inteligência artificial em níveis avançados. Só tenha em mente que você não vai receber um novo Homeworld, apenas mais detalhes sobre como o Substrate e o PHC começaram a existir.
Ano após ano eu me vejo mais atraído por jogos que sabem encontrar o seu ritmo ou reorganizar conceitos para destacar-se da multidão. Ashes of The Singularity: Escalation não é uma produção milionária, mas é um passo à frente nos jogos de estratégia em tempo real que merece a atenção dos fãs do antecessor e aqueles que buscam saciar a sede por um novo game. Recomendo, porém, prestar atenção no relógio, pois quando menos perceber você está na mesma partida há quatro horas e parece que só se passaram dez minutos.
Ashes of the Singularity: Escalation
Total - 9
9
Ashes of The Singularity: Escalation lapida as arestas do antecessor e entrega um jogo de estratégia em tempo real digno a ser jogado por todos. Evita de seguir o tradicionalismo do gênero e continua ainda mais a encontrar a sua voz em meio de um gênero estagnado. Que rufem os tambores ao encontro de dois poderosos exércitos ao se encontrem no campo de batalha, pois o espetáculo é impressionante.